Daí a mil anos
Monsaraz, 2002
Noite de verão
Passaram muitos dias já, e se me lembro
dessa noite de verão
escurecendo de vaga em vaga
foi porque mesmo no escuro cantavam
as cigarras. Estendido
ao meu lado respirava outro corpo.
Um rasto de juventude
habitava-me ainda. Há corpos
onde não termina.
Um vento leve, a que chamam brisa,
passava entre as miúdas folhas
da oliveira. De repente um cão
ladrou. Estremecemos ambos.
E soubemos então que, mesmo o amor,
teria um fim. Talvez naquela noite.
Talvez daí a mil anos.
Eugénio de Andrade
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home